sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O problema da baixa fertilidade

Uma vez discuti com alguns amigos sobre a "vantagem" do bolsa família em limitar o número de filhos beneficiados em três. O casal de amigos de classe média, que tinha apenas um filho, discordou seriamente da política. "Para que ter três filhos?"

Bom. O Brasil ainda não tem problemas de baixa natalidade, mas o terá em um futuro breve. A pirâmide etária do Brasil sofreu uma mudança drástica em pouco mais de vinte anos - na Europa essa mudança demorou um século.

Hoje estava pesquisando modelos econométricos nas bases de dados científicas e me deparei com um working paper da Harvard School, intitulado: The High Cost of Low Fertility in Europe (Bloom et al., 2008).
Em suma, o estudo diz que uma queda na fertilidade provoca uma diminuição da população dependente (filhos - estudantes) e um aumento na parcela da população em idade de trabalhar. Esta dinâmica faz com que a renda per capita aumente. Nada de novo até aí.

O Grande lance está no longo prazo. A parcela da população que trabalha hoje e tem idade avançada estará aposentada no futuro e teremos uma pequena parcela da população apta a trabalhar (e bancar a população idosa). A solução é "importar pessoas" com idade de trabalhar dos países pobres? Como se problemas de xenofobia não existissem...

Países como Zâmbia, com uma alta taxa de fertilidade deveriam diminuí-la, ao contrário de países europeus, cuja fertilidade deveria ser estimulada. Nos países do oeste europeu, mantida a longevidade, é esperada, nas próximas décadas, uma diminuição no número de pessoas em idade de trabalhar de 25%.

Moral da história. O ideal é chegar a uma proporção constante de velhos e jovens na população. A chamada taxa de reposição, que contempla essa proporção, é de 2,1 filhos por mulher. No Brasil essa taxa já foi de 6 filhos na década de 1960, 4,5 filhos na década de 1970 e hoje, segundo a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) é de 1,8 filhos - abaixo da taxa de reposição.

É por isso que o bolsa família "estimula" que a mulher tenha até três filhos!

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