sábado, 27 de março de 2010

Ainda sobre o funcionalismo público

Lembrei de um texto muito interessante sobre a Reforma do Estado.
Foi um tema muito discutido na transição do governo do Itamar Franco para a do Fernando Henrique.
A lógica da transição de uma situação de inflação elevada para um ambiente estável, com âncora cambial, deveria também ter como suporte um estado mais eficiente.

O documento oficial é assinado por Bresser-Pereira (quem diria hein). Outros colaboradores para o texto são FHC, Pedro Malan (então ministro da fazenda), José Serra (então ministro do planejamento). O texto oficial pode ser baixado aqui.

A conexão entre o documento e o post anterior reside na proposta de flexibilização do regime de estabilidade do servidor público. A proposta é válida para os servidores estatuários. Segundo o texto:
"a flexibilização da estabilidade dos servidores estatutários, permitindo-se a demissão, além de por falta grave, também por insuficiência de desempenho e por excesso de quadros".
Não há lógica em manter a atual posição de estabilidade incondicional. (você já viu algum servidor público ser demitido por falta grave?)

Acho difícil que alguma autoridade queira perder o apoio dessa massa. Não há horizonte para mudança.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Reajustes do setor público

Hoje estávamos brincando de sardinha no carro, depois da aula, eu e alguns colegas de sala. Ainda no campus da USP-RP passou um carro com um som (alto) dizendo que haverá reunião dos funcionários administrativos hoje a tarde. Estes desejam reajuste salarial de 6%.

O motivo dessa análise é extremamente viesado. Vou falar pura e simplesmente por uma amostra pequena dos funcionários públicos.

Estou estudando na minha segunda universidade pública. Além disso, já passei algum tempo em órgãos públicos como Detran e Postos de Saúde. Convivi com alguns funcionários públicos e já escutei amigos falarem que desejam passar em algum concurso público para "ganhar bem e trabalhar pouco". Já disse e enfatizo: é uma amostra viesada! Peço desculpa aos funcionários públicos eficientes. É digno de nota também que esta análise encontra problemas metodológicos no que tange a experiência microeconômica (fajuta) ampliada para a análise macro. Enfim, é um "palpitão".

A afirmação que inicia a história é a seguinte: O funcionário público é, em geral, menos eficiente que o privado; além disto, os primeiros também são muito mais exigentes. Explico:

Aprende-se nos cursos de economia que o salário (real) dos trabalhadores deve crescer juntamente com a produtividade (marginal) do trabalho. Ou seja, os salários podem subir, desde que haja compensação na qualidade/quantidade dos serviços prestados à sociedade. Isso significaria que para dar suporte a um pedido destes, deveria haver meios de avaliar o serviço prestado. [Esta é a parte séria da análise]

Voltando à amostra: Em média, você acha que é bem atendido no funcionalismo público? Você acha os serviços prestados eficientes? A minha resposta é: em média, para ambas as perguntas, não.

Um colega meu, ao escutar meu ponto de vista, defendeu os funcionários dizendo que muitos salários encontram-se defasados e que seria justo tal aumento. Eu respondo assim:

Não sei qual foi o último reajuste dos funcionários administrativos. Mas se há defasagem, deveria ser concedido apenas algum ajuste ligado ao IPC. Ajustes indexados ao salário mínimo ou comparativos aos reajustes da indústria, por exemplo, não são válidos. Isso porque houve crescimento real destes nos últimos anos. Todavia, os o salário mínimo parte da ideia de política distributiva e o aumento da indústria teve respaldo no crescimento da produtividade. O que não aparenta ser o caso dos funcionários públicos.

De qualquer maneira, eu até abraçaria a causa deles se eles provassem que houve melhora no serviço público ao invés de simplesmente "reeinvindicar seus direitos".
[Ficaria muito feliz também se fosse mais bem tratado por todos ao utilizar a coisa pública]

quinta-feira, 25 de março de 2010

Fugindo da proposta do blog...

Essa semana estou com a cabeça em Campo Grande... Depois de 4h de aula de Macro a tarde, só consigo fazer coisas produtivas, como assistir o trailer abaixo:


domingo, 21 de março de 2010

Por que o Real Madrid não vence a Champions League?

Essa é uma pergunta que paira na cabeça de muitos amantes do futebol. O Real Madrid, maior vencedor da Liga dos Campeões da UEFA (9 vezes) contratou nomes de peso e mesmo assim ainda não convenceu.
Essa semana foi eliminado da competição, novamente nas oitavas de final.

Jogadores como Kaká, considerado um dos melhores do mundo, têm dificuldade em jogar a um nível elevado. Além deste, foram contratados Cristiano Ronaldo (até então melhor do mundo e o jogador mais caro da história do futebol), Xabi Alonso, Alvaro Arbeloa, Raúl Albiol, Esteban Granero...

Aí a culpa cai em cima do técnico. E o Real Madrid troca o técnico. Provavelmente Pellegrini deve cair no término da temporada.

Minha análise parte do seguinte fato: Nas últimas 20 edições da Champions League, apenas em 4 oportunidades técnicos recém-contratados (início da temporada) foram campeões. São elas: Liverpool com Rafa Benitez em 2005; Real Madrid com Vicente Del Bosque em 2000 e Jupp Heynckes em 1998; e Estrela Vermelha com Ljupko Petrovic em 1991. Ver tabela abaixo:


Em metade das ocasiões os técnicos tinham já um ou dois anos de treinamento antes da temporada campeã começar. Isso aconteceu até com o encantador Barcelona da temporada passada. Na primeira temporada com Pepe Guadiola no comando, o Barcelona não venceu nada - e nem por isso o técnico fora despedido. Na temporada seguinte veio a "recompensa".

80% dos técnicos campeões já tinham ao menos uma temporada completa no comando da equipe antes da temporada campeã começar.

Isso não são só números. Pode-se imaginar que ao longo do tempo o técnico conhece melhor cada jogador, tem mais tempo para modelar a equipe e, além de tudo, tem a oportunidade de, ao final da temporada, comunicar à diretoria quais são as principais carências do elenco. Quais jogadores são ou não dispensáveis e quais seriam boas contratações. Trazer jogadores promissores das categorias de base ou jogadores com que o treinador trabalhou anteriormente são boas opções.

Portanto, minha humilde recomendação ao Real Madrid é: Espere o fim da segunda temporada para demitir um técnico. Não digo isso apenas pelo Pellegrini, mas por tantos outros grandes técnicos que já passaram por lá.

quarta-feira, 17 de março de 2010

O Copom, Krugman e eu

O único assunto que une estas três figuras é o interesse pelos juros brasileiros.

Na verdade, a motivação desse post veio poucos minutos antes da decisão do Copom, que manteve a Selic em 8,75% a.a.; mas ainda serve para análises futuras.
O Banco Central tem sido um órgão de extrema competência na manutenção das taxas inflacionárias a níveis aceitáveis. Tomou decisões criticadas pelos mais progressistas devido, principalmente, a (ir)responsabilidade da política fiscal. Manteve a inflação dentro da banda usando a regra dos juros elevados.

O mais engraçado é que no momento da grande crise deste século - até agora - é que esse conjunto de fatores foi importante para a recuperação do Brasil. Os gastos governamentais, vistos como excessivos, ajudaram a manter a renda no momento da crise. Basta olhar para a quantidade de pessoas contratadas pelas esferas públicas. O juro recorde mundial era um colchão de gordura para a redução gradativa, conforme a crise se agravava. Ainda assim tivemos decrescimento de 0,2%.

O momento agora é outro "pero no mucho". A economia está aquecida novamente. Já há pressão nos preços. E aí vem uma nova pressão para alta nos juros.
Agora entra Krugman. Em um post de seu blog traduzido no Estadão ele argumenta sobre a armadilha da liquidez. Confesso que foi o texto (simples) mais esclarecedor sobre o tema que já li.

Acontece que o juro nominal já é quase zero nos EUA, Japão, Europa (incluindo Inglaterra) e Austrália. E nesses países o crescimento ainda não está retomado. O que acontece é que para estimular o crescimento a taxa de juros nominal nesses países teria que ser negativa, fato ainda não visto neste planeta (pelo menos por mim). É um questionamento a política adotada no pré-crise.
E o que isto tem a ver com o Copom?

Bom. Na verdade temos um dilema. O que deveremos fazer a partir de agora? Manter a receita neoclássica: Ou diminuímos gastos públicos ou aumentamos os juros para manter os preços? Esquecemos de vez isso, mantemos os juros a estes patamares e esperamos por um crescimento mais robusto, ainda que com pressão sobre preços?

Eu provavelmente ainda tenho muito a aprender para palpitar. Mas... Se alguém quiser saber minha opinião: Já passou da hora das mudanças estruturais. Menos burocracia e mais infra-estrutura podem ser uma alternativa a aumentos dos juros ou diminuição dos gastos. Em suma, mais eficiência.