segunda-feira, 12 de julho de 2010

Entrevista do Krugman

Entrevista do Paul Krugman para o site do Estadão (link aqui).
Destaque para a primeira pergunta, a qual concordo muito. Sou contra o oba-oba que vemos na maioria dos noticiários. O Brasil precisa passar por uma série de melhorias para emergir como potência. Dou ênfase para a questão de reformas simplificadoras, burocrática e, sobretudo, tributária.

O senhor acredita que existe um otimismo exagerado com a economia brasileira e outros países emergentes? O conceito dos Brics ainda é válido?

Sempre considerei o conceito dos Brics muito pobre, porque são economias muito díspares. Índia e China talvez possam pertencer a um mesmo grupo, por serem ainda economias com mão de obra muito barata; Rússia é um exportador de petróleo e o Brasil é um país de renda média baixa muito diferente dos outros. O Brasil é uma boa história, que na última década teve um desempenho melhor do que o esperado, conseguiu evitar uma crise severa, promoveu uma série de melhoras no poder de compra da base de sua população diante uma história de disparidade nas rendas, mas não é ainda uma história notável de crescimento. A ideia do Brasil como uma superpotência econômica futura é ainda muito baseada em especulação com suas conquistas recentes. Espero que um dia seja verdade, mas ainda não vejo isso acontecendo. Não vejo indicação hoje no crescimento do Brasil de que ele possa emergir como uma potência da mesma forma que a China.

Qual o papel da China na recuperação do crescimento econômico mundial?

A China é muito problemática, mesmo deixando de lado a questão da moeda, que tem impedido que sua demanda interna ajude o restante do mundo. Mesmo agora, ela não é uma economia tão grande, imaginamos que ela seja pela enorme quantidade de pessoas, mas do ponto de vista da taxa de câmbio - que é o que importa - ela ainda é do tamanho do Japão. Uma maneira que poderia fazer as economias emergentes liderarem a recuperação mundial seria se elas se preparassem para uma entrada massiva de capitais, com elevados déficits nas suas contas correntes. Mas esse não é um cenário real, uma vez que os governos desses países não permitirão que isso aconteça. Olho para o final do século 19, quando os pesados estímulos daquela época permitiram o surgimento de novas tecnologias e aceleraram a demanda. O problema é que o IPad não é grande o suficiente. É difícil prever como esse período de fraca demanda mundial chegará ao fim, e pode haver um longo caminho antes que isso aconteça.

É correta a percepção de que a atual crise nos países da União Europeia seja mais uma crise do euro do que uma crise de dívida soberana?

O euro tem sérios problemas, não é apenas uma crise de dívida. Casos como o da Espanha, que vinha tendo bons resultados nos últimos anos e agora está nessa situação, e mesmo a Grécia, que deve passar por uma fase de forte deflação após muitos anos de entrada massiva de capitais são situações muito difíceis de imaginar uma solução. Está-se diante de uma moeda única numa área que de certa forma nunca estabeleceu critérios para ter uma moeda única.

Como a Europa deve lidar com a sua crise de dívida soberana, como evitar que o euro entre em colapso?

É difícil ver uma saída para a Grécia sem uma reestruturação, e a questão principal para ela não é como irá reestruturar sua dívida, mas como ela vai resolver a questão do euro. Para o restante dos países, políticas não sincronizadas ajudariam muito; o programa de austeridade espanhol tem mais probabilidade de dar certo se toda a Alemanha não estiver também sob um programa de austeridade. Não vejo o euro entrando em colapso, vejo mais uma chance de a zona do euro perder alguns países periféricos, com saídas plausíveis como da Grécia. Ficaria muito surpreso se as economias centrais do euro não permanecessem com a moeda única.

O que poderia ser feito para que o euro seja uma moeda mais viável?

Uma política de meta de inflação mais frouxa, por exemplo, poderia ajudar. Se a zona do euro estabelecesse uma meta de 3% ou 4% seria bem mais fácil de se fazer ajustes nos países problemáticos do que com uma meta de 1% ou 2%, como é agora.

A crise Grega está sendo comparada à crise Argentina em 2001. Isso significa que a Grécia deva deixar o euro? E em relação a outros países em situação semelhante?

Há diversas semelhanças da Grécia com a Argentina. Eu diria que a Argentina se comportou de forma mais responsável, com um déficit substancialmente menor do que tem a Grécia. Mas em ambos os países você tem uma economia que recebeu volumes intensos de entrada de capital ao longo de vários anos e, quando esse capital secou, viu-se com uma grande quantidade de obrigações em sua moeda. No caso da Argentina, ela estabeleceu uma paridade com o dólar e um novo sistema de câmbio. O aconteceu foi que a primeira ação foi enfrentar uma crise bancária, que forçou o governo a fechar os bancos. Não estou dizendo que a Grécia deva abandonar o euro, mas, se houver uma crise bancária, o governo será obrigado a decretar um feriado bancário e a questão que fica é por que se manter no euro. Os argumentos são muito fortes sobre como isso acaba.

Qual a sua opinião sobre o acordo feito pelos líderes do G-20 para diminuírem seus déficits? Seria uma espécie de derrota à economia keynesiana?

Sim. A promessa de reduzir os déficits não foi nada além do que já se planejava. No caso dos Estados Unidos, a meta não é diferente da que já era prevista diante de uma recuperação da economia. Não há dúvidas de que o tom geral desse acordo foi "ok, está na hora da austeridade", e isso é uma coisa muito chocante de se ver, diante de uma recuperação econômica mundial ainda muito distante. Todos sabem que sou furiosamente contra isso, principalmente porque essa virada para a ortodoxia na política econômica mundial ocorreu sem nenhuma evidência clara de que era necessária.

Qual a disposição dos Estados Unidos de realizar acordos de livre-comércio?

Atualmente, não há muita discussão sobre acordos comerciais. Dada a situação política do país, com o presidente Obama tendo de lutar até mesmo por questões triviais e óbvias que devem ser feitas, não há como desperdiçar capital político com acordos comerciais, como a Rodada Doha. Se eu fosse ele, faria o mesmo. Esse é um assunto que não está no topo da agenda da atual gestão ou mesmo da próxima.

Há algum substituto para o dólar como principal moeda de reserva?

Uma moeda de reserva de valor não é algo que possa ser estabelecido por uma decisão política. Os países não guardam dólares ou euros porque alguém tenha ordenado; eles o fazem porque essas moedas são aparentemente mais seguras e altamente líquidas e esse é o problema principal do SDR (moeda composta por uma cesta de moedas do Fundo Monetário Internacional). O que poderia substituir o dólar teria de ser algo comprovadamente melhor desse ponto de vista. A única alternativa possível seria o euro, e há dois ou três anos eu imaginava que ele alcançaria uma parcela maior das reservas mundiais em relação ao dólar, mas acho que o euro deu um grande passo atrás, com todos os problemas atuais.

Há a possibilidade de um duplo mergulho na economia mundial com as medidas de austeridade tomadas na Europa?

Acredito que seja ainda uma possibilidade, mas não a mais provável. Você não vê um PIB em queda. Acho que um problema maior é que fizemos um progresso muito frágil na diminuição do desemprego nos Estados Unidos. Então um mergulho duplo propriamente dito, acredito que não; recuperação do desemprego, provavelmente sim, e é isso que me preocupa.

domingo, 4 de julho de 2010

A prova [2]

Bom... eu não sou aquele que vai execrar apenas depois do que aconteceu. No dia 13 de maio (link) eu já reiterava o comportamento agressivo de Felipe Melo até em uma simples entrevista.
Segue a entrevista depois do jogo, com as pérolas:

"Não sei se foi para cartão vermelho, eu não vi na televisão a jogada"
[Ele não pisou propositalmente no cara? Estava ali, ao vivo, in loco]

"O árbitro foi muito rude..."
[Qual adjetivo poderíamos utilizar para Felipe Melo?]

"O Robben continuou jogando. É diferente né?! Se fosse uma jogada realmente desleal, uma jogada para tirar ele do jogo, com certeza ele não estaria jogando, porque eu tenho força para suficiente para quebrar a perna do Robben" [Precisa dizer alguma coisa?]

sábado, 3 de julho de 2010

Os erros da seleção brasileira e as expectativas futuras

Sou fã de carteirinha da turma da ESPN, sobretudo Mauro Cézar Pereira (blog), do Paulo Vinicius Coelho (blog) e do Juca Kfouri (blog); além, é claro do Tostão, ligado à Folha de SP, que já foi várias vezes citado neste espaço. Acompanho a muito tempo essa turma. São os críticos de futebol mais preparados Brasil.

O que reproduzirei aqui vai ao encontro das críticas feitas por eles. Vou enumerá-las  para melhor sistematização [existe uma possibilidade remotíssima de alguém ligado a CBF ler - não custa sonhar]. Não vou perder tempo falando do Ricardo Teixeira também, o cara que está na ditadura da CBF a mais tempo que o ditador norte-coreano...

Todas as críticas restantes são ligadas ao técnico Dunga, o imediato ditador-júnior da CBF.
1) A relação com a imprensa
O Dunga nunca soube lidar com críticas. Era uma pessoa estremamende despreparada neste sentido. Dava-se bem com a imprensa "amiga", aquela que só faz reportagens felizes, exaltando os êxitos do técnico. O bom técnico escuta atentamente as críticas, pois é possível que boa parte delas façam algum sentido; e assim aprende - melhora - com elas. O segundo ponto ultrapassou a relação com a imprensa...

2) O destempero (comportamento violento)
Não era apenas nas entrevistas coletivas. Foi assim dentro de campo, onde insultava árbitros, adversários e por várias vezes, a torcida. No último jogo contra o Chile, pela eliminatória, ele chegou a agredir verbalmente uma parte da torcida na frente das câmeras. Isso não se faz, a torcida tem o direito de falar o que quiser, o técnico não. O ápice foi a entrevista coletiva na qual murmurava palavrões e olhava bestialmente ao simpático Alex Escobar. Na minha opinião tal comportamento só pode ser patológico. E o time absorveu esse "espírito guerreiro" (argh!) nos jogos contra Costa do Marfim, Portugal e, sobretudo, Holanda.

3) O excesso de coerência (ou a falta de)
Vou resumir as demais críticas aqui.
3.1 - Dunga montou um bom time, ainda que eu discorde de jogadores como Felipe Melo, Elano e Michel Bastos (do time titular) e vários reservas. Mas a principal crítica é a falta de opções na reserva. Quem seria o reserva de Kaká? Um jogador capaz de tocar a bola, melhorar a dinâmica do jogo em favor do time? Júlio Baptista? Não creio. O que se pretendia fazer com Kléberson, Ramires, Josué? Por que colocar Ganso na fila de espera e não convocá-lo? Qual a coerência?
3.2 - O segundo sub-item é o fato do enclausuramento dos jogadores. Sem direito a descanso, sem treinos abertos a imprensa. Só porque a copa de 2006 foi uma zorra, deve-se implantar uma ditadura agora? É essa a lógica? Segundo informações, 2002 estava mais para clima de farra do que de seriedade... e fomos campeões.
3.3 - A ideia do professor Dunga de que o importante é o resultado, independente da beleza do jogo. O Brasil não precisa dar show, mas tem jogadores hábeis, com condições de mostrar um jogo agradável de se ver. Seleções como a japonesa e algumas européias, que não tem grandes jogadores, devem jogar assim para conseguir algo. Sou completamente contra a ideia apenas do resultado, pelo menos para a seleção canarinho.

O último item faz a ligação com os preparativos para a próxima Copa, que será em nosso país.
Não sei qual é o técnico que tornará possível uma seleção bonita de se ver. Jogadores não faltarão: Neymar, Ganso, Coutinho (Vasco/Internazionale), Pato... Fora o que ainda há de surgir.

Um leitor do Blog criticou Ricardo Teixeira. Eu também apóio a saída do ditador, mas acho impossível antes do término da copa de 2014. Muita grana vai rolar até lá.